Ricardo olha para a escassez de guarda-redes portugueses na Liga como uma consequência da aposta «no barato e acessível, ao invés da formação». Perante o desolador cenário actual, o internacional português defende um trabalho de fundo, que se centre não só nas questões técnicas, mas sobretudo na preparação mental.
Na opinião do antigo guarda-redes de Boavista e Sporting, a diferença está na autoconfiança. «Ao longo da carreira vi muitos jovens com qualidade, mas sem preparação mental», reitera, antes de dar um exemplo da importância de uma mentalidade forte: «O Kahn era um guarda-redes fantástico, mas valia pela sua autoconfiança. Era um guerreiro. Tecnicamente era fraco, estava até longe do nosso nível. Os portugueses precisam de acreditar mais em si próprios. Portugal tem uma história de excelentes guarda-redes, que estiveram entre os melhores do Mundo», disse ao Maisfutebol.
Só um quarto das balizas da Liga está entregue a portugueses
Ricardo entende que essa crença nas capacidades próprias deve ser induzida através do treino. «Tem de haver um trabalho mais específico. É o único posto isolado do jogo», sustenta. É, de resto, uma área que o internacional português do Bétis tenciona abraçar no futuro: «Quase de certeza que o futuro vai passar por aí. Gostava de treinar guarda-redes até eles saírem para o futebol profissional. A nível técnico já se trabalha bem, mas é preciso prepará-los para a realidade que vão encontrar. No meu início de carreira aprendi muito com colegas mais velhos. É preciso passar experiências.»
O problema não se esgota aí, contudo. Ricardo lembra que «apenas um em cada dez miúdos quer ser guarda-redes», mas incentiva uma reacção estrutural à escassez de jogadores portugueses para esse posto. «Amanhã já é um dia mais tarde. As coisas têm de ser feitas o mais rapidamente possível», sustenta, consciente de que os frutos do trabalho na formação podem demorar alguns anos. Mas mesmo perante este cenário, entende que o Seleccionador Nacional tem boa matéria-prima: «Claro que seria preferível ter 50 opções, mas há qualidade, e muita, para o Paulo (Bento) escolher.»